Nos últimos tempos, é só aparecer uma febre mais alta ou aquela moleza no corpo para o brasileiro ficar preocupado. Será ele mais uma vítima do Aedes aegypti? O mosquito agora é vetor não só das velhas conhecidas dengue e febre amarela, mas de novos males: a zika e a chikungunya. Todas essas viroses provocam febre, dores e manchas pelo corpo, embora cada uma delas possua também sintomas específicos e possíveis complicações. Por isso mesmo, é preciso ficar atento aos sinais para um diagnóstico preciso e posterior tratamento.

Quais os principais fatores para identificar as diferenças entre as doenças.

A infectologista Helena Brígida, integrante do Comitê de Arboviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia, ensina como reconhecê-las: enquanto na dengue o sintoma de maior destaque é a febre, sempre alta e repentina, a chikungunya é marcada por dores nas articulações, bem mais intensas que nas outras doenças. A zika, por sua vez, tem como sintoma-chave as manchas avermelhadas pelo corpo, coceira intensa e inchaço nos joelhos e tornozelos.
“A diferença é sutil, e o diagnóstico precisa ser clínico e epidemiológico, levando em conta a situação de infecções naquela localidade”,
disse a especialista em entrevista à Agência Brasil. O tratamento, semelhante nas quatro viroses, é concentrado na amenização dos sintomas, conduta que não é modificada diante de um resultado laboratorial positivo ou negativo. Por outro lado, descobrir qual o vírus responsável pelo quadro de infecção é importante para evitar desdobramentos graves, como ocorre com o zika vírus, associado à microcefalia neonatal e à síndrome de Guillain-Barré.

 

Informações sobre o Aedes Aegypti

 

Verdades e mitos

Para barrar a proliferação do Aedes aegypti, basta não deixar a água parada.
MITO. Não adianta apenas eliminar recipientes que podem acumular água parada. Os ovos do Aedes aegypti podem ficar em estado de latência por até um ano, vindo a eclodir quando o local tiver água acumulada novamente. Por isso, recipientes e reservatórios precisam não só ser esvaziados, como também esfregados com escova ou bucha.

Só a fêmea do Aedes aegypti é capaz de transmitir os vírus.
VERDADE. Tanto o macho como a fêmea dessa espécie de inseto se alimentam de substâncias que contêm açúcar, como néctar e seiva de plantas, porém só a fêmea necessita do consumo de sangue. Isso se deve ao fato de que somente ela produz os ovos.

Usar calças compridas diminui a probabilidade de ser picado pelo mosquito.
VERDADE. O Aedes aegypti pica seres humanos preferencialmente nos membros inferiores, tanto nas pernas quanto nos pés. Em geral, é atraído pelo calor e por baixa luminosidade, motivo pelo qual as picadas ocorrem mais ao amanhecer e anoitecer.

Em temperaturas frias, a população está livre do A. aegypti e das doenças transmitidas por ele.
MITO. Durante estações mais frias, a larva pode, sim, entrar em estado de hibernação, mas é só voltarem as chuvas e altas temperaturas que elas eclodem e reiniciam o ciclo de contaminação. Além disso, o frio de espaços climatizados pode até inibir a presença do Aedes aegypti, mas não o extermina. Uma vez desligado o ar-condicionado, ele pode permanecer no local, pronto para picar.

Não se deve tomar ácido acetilsalicílico (AAS) ou outros anti-inflamatórios em caso de contaminação por algum vírus transmitido pelo Aedes aegypti.
VERDADE. Remédios à base de salicilatos, como também é o caso anti-inflamatórios não-hormonais (ibuprofeno, diclofenaco, nimesulida), podem aumentar o risco de complicações hemorrágicas em infecções por esses vírus. O tratamento deve ser feito com antipiréticos e analgésicos (preferencialmente dipirona), repouso e hidratação.

A epidemia de zika e os casos de microcefalia estão relacionados aos mosquitos geneticamente modificados que foram soltos no ambiente.
MITO. O projeto Eliminar a Dengue: Desafio Brasil, realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com o Ministério da Saúde, propôs o uso da bactéria Wolbachia para tentar impedir a transmissão do vírus da dengue pelo Aedes aegypti. Esse micro-organismo possui ocorrência natural no meio ambiente e está presente até em outros insetos, como no pernilongo. O estudo já teve resultados positivos na Austrália, na Indonésia e no Vietnã. No Brasil, as pesquisas estão em andamento.

A epidemia de zika e os casos microcefalia estão relacionados a vacinas vencidas ou larvicidas.
MITO. Todas as vacinas oferecidas pelo Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde são seguras, e não há nenhuma evidência científica que aponte para sua associação com microcefalia. O controle de qualidade é realizado pelos laboratórios que as produzem sob fiscalização rigorosa da Organização Mundial de Saúde (OMS). A vacina contra a rubéola, relacionada a esse boato, nem sequer é ministrada em gestantes. Também não existem estudos epidemiológicos que comprovem a relação entre o larvicida Pyriproxifen e a microcefalia. O Ministério da Saúde somente utiliza larvicidas recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), caso do Pyriproxifen.

A zika pode ser transmitida através da saliva.
MITO. Embora a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) tenha conseguido encontrar o zika vírus ativo em amostras de saliva e urina, não há dados suficientes para afirmar isso. O vírus teria de passar pelo ambiente gástrico e ainda assim sobreviver para ser capaz de infectar alguém por essa via, o que é pouco provável.

O zika vírus pode provocar a síndrome de Guillain-Barré.
VERDADE. Embora com ocorrência rara, já foram reportados casos em que pacientes com o zika vírus desenvolveram a síndrome de Guillain-Barré, doença autoimune em que as defesas do organismo, reagindo a uma infecção bacteriana ou viral, atacam o próprio sistema nervoso. A relação entre as duas doenças vem sendo investigada por especialistas.

Mulheres grávidas devem evitar viajar durante a gestação.
VERDADE. Não só por causa do aumento dos casos de dengue, zika e chikungunya, como também pela possibilidade de retorno da febre amarela urbana. Em qualquer situação, gestantes devem consultar seus médicos antes de viajar e, uma vez autorizadas, precisam tomar precauções especiais quando estão em trânsito.